Ainda que a presença de um conjunto de artistas representados através de uma única obra sirva num primeiro momento, ou num primeiro núcleo, o propósito fundamental de mostrar a diversidade temática que na pintura se foi praticando, pode dizer-se que muito poucos pintores houve realmente a sério no séc. XVII. Baltazar Gomes Figueira, talvez o melhor, é aqui representado através de uma das suas mais virtuosas naturezas mortas.
A viragem do séc. XVIII para o XIX, e na pintura de temática mitológica, evoca-se com a presença de Domingos Sequeira, ainda que através de uma obra inacabada, e com Vieira Portuense a coleção inclui uma pintura sua excecionalmente sofisticada, tanto na singularidade do tema – Júpiter com as Ninfas de Dodona –, quanto no modo como corporiza as figuras através da vibração da luz, primeiro, e a faz depois diluir na profundidade da paisagem, num notável trabalho em mancha, com que reduz progressivamente o céu e a terra à unidade de uma poalha luminosa.
Para as temáticas do retrato e da paisagem, reúnem-se dois artistas que adquiriram no tempo algum protagonismo, o viseense José de Almeida Furtado, conhecido por “Pintor Gata”, e Jean Pillement. O primeiro destes pintores, com numerosa obra na coleção do museu, autorrepresenta-se em pose romântica, tanto no gesto de abandono da cabeça sobre o braço, na camisa branca vagamente desalinhada, como no olhar melancólico que ignora a presença do desenho sob a mesa de trabalho. Com Pillement, um pintor de origem francesa por largos períodos radicado em Portugal, no Porto, pode evocar-se uma das constantes da arte portuguesa – a presença de artistas estrangeiros, sobretudo nos momentos em que a má qualidade do que se fazia dava ao espaço de trabalho português a qualidade de apetecível – e abre-se o caminho para a temática que mais perdurou na pintura do séc. XIX e grande parte do seguinte: a paisagem.